Compartilhamento de conhecimentos e técnicas ancestrais de regeneração marca formação com indígenas de onze etnias.
Fruto das reflexões realizadas durante o I Encontro Indígena de Restauração Ecológica (I EIRE), que aconteceu durante a V Conferência Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE 2024), entre os dias 8 e 12 de julho de 2024, em Juazeiro, Bahia, a Formação de Multiplicadores Indígenas em Restauração Ecológica (MIRE) foi iniciada com a participação de quinze indígenas de onze etnias para compor o primeiro grupo MIRE. Além dos indígenas selecionados, a formação contou com a participação de seis servidores da Funai das Coordenações Regionais (CRs) de Alto Purus, Alto Solimões, Cacoal, Kayapó Sul do Pará, São Gabriel da Cachoeira e Tapajós.
A formação, que é uma realização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em parceria com Ambientallis, Ministério dos Povos Indígenas e parceiros locais, com recursos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), prevê a realização de três módulos. O primeiro módulo, intitulado “Caminhos das Sementes”, envolveu a troca de saberes sobre sementes, mudas, viveiragem, diagnóstico de áreas degradadas e serviços ecossistêmicos, aconteceu entre os dias 04 e 08 de novembro de 2024 no Centro de Inovação em Restauração de Ecossistemas Amazônicos da Ecoporé, em Rolim de Moura - Rondônia, e alinhou-se aos objetivos do projeto Escola da Restauração Ecológica na Amazônia, apoiado pela USAID por meio do Serviço Florestal Americano (USFS).
Segundo Neiriel Terena, um dos selecionados para compor a primeira turma do MIRE e que também participou do I EIRE, a troca entre parentes foi uma das principais demandas dos povos indígenas durante o EIRE. Como os territórios indígenas estão presentes em diferentes biomas e enfrentam realidades distintas, trocar experiências é crucial para o jovem Terena. “Esse momento é um momento de socialização e de partilhar experiências e resultados que foram positivos entre indígenas. A troca entre parentes é importante porque ela fortalece o elo do que são as reais necessidades dentro dos territórios”, explica.
Durante o módulo, Neiriel refletiu que os desafios dentro dos territórios são muitos e, às vezes, “a gente se vê sozinho, mas aí a gente percebe que todos nós somos sementes dentro dos territórios, porque a gente germina as ideias. A partir daí essas ideias começam a nascer. Então, quando a gente se junta, a gente forma uma muvuca, transforma a vida”, diz.
A troca de saberes também foi um ponto destacado por Tainan da Silva, do povo Kumaruara. A indígena afirma que foi importante ver os saberes indígenas serem reconhecidos no meio da restauração e afirma que participar do módulo foi “fortalecedor, porque a gente tem certeza que o trabalho que estamos desenvolvendo dentro dos nossos territórios e aldeias não está isolado, que dentro das outras comunidades indígenas e territórios também são praticados”.
De acordo com a Coordenadora de Conservação e Recuperação Ambiental da Funai, Nathali Germano, a intenção é justamente que esse processo inspire e subsidie a construção de uma estratégia contínua de formação para a restauração. Tais formações deverão fazer parte de um Programa de Restauração Etnoecológica com povos indígenas. Para a servidora, um dos grandes aprendizados desse módulo foi que uma restauração efetiva extrapola a dimensão ecológica e o mero plantio de sementes e mudas, abrangendo questões como a proteção e a sabedoria ancestrais, os conhecimentos e práticas tradicionais, a interdependência entre a saúde do corpo, do território e da cultura.
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